Ordem no Galinheiro – Lucia Sauerbronn

Nenhum homem saía de casa sem terno. As mulheres usavam tailleur e meias finas até para fazer umas comprinhas. As crianças pediam a bênção aos mais velhos. Homens e crianças cediam lugar aos idosos e às mulheres. O pai era autoridade máxima na família. Bastava um olhar dele para o filho perceber que estava sendo inconveniente. Os alunos se levantavam quando o professor entrava na classe e ficavam de castigo se atrapalhassem a aula. Regrinhas básicas de educação eram ensinadas até nas famílias mais simples: dizer por favor, com licença, obrigado, desculpe.
Esse comportamento vigorou até os anos 60, quando os jovens declararam guerra a tudo o que julgaram antiquado e opressor. Foi uma época cheia de vida, em que o que valia era derrubar tabus e quebrar costumes: os cabelos ficaram compridos; as saias, curtas; o amor, livre. Como se determinou que era proibido proibir, todos podiam tudo. Crianças antes consideradas mal-educadas passaram a ser chamadas de engraçadas. Os adolescentes se sentiram à vontade para fumar e beber abertamente na frente dos velhos. Por sinal, logo passaram a trazer os namorados para dormir em casa.
Em nome da liberdade, minha geração liberou geral. Deixamos os filhos pintar e bordar. Subiram nos sofás, falaram palavões, reclamaram da comida, fizeram birra quando eram contrariados. Adolescentes, não ficaram melhores. Adultos, estão tornando a vida insuportável. Vamos ser honestos: se continuar assim, corremos o risco de voltar à idade da pedra.
Errar é humano e ninguém faz curso para ser pai. Com medo de ser rigorosos demais, enchemos nossos filhos de carinho e atenção. Fizemos as suas vontades, fechamos os olhos para suas falhas e defendemos seus erros. Procuramos dar a eles o melhor. Mas todo esse esforço não tornou as crianças mais felizes. Esquecemos que proibir também é uma forma de amar.
Alguém pode me acusar de estar preocupada com boas maneiras quando os verdadeiros problemas são a fome e o desemprego. Só que a falta de educação e respeito pelo outro ocorre em todas as classes sociais. Inclusive entre os bem-nascidos e alimentados.
Os filhos aprendem o que vivem. Por isso, pense bem antes de jogar papel no chão, bisbilhotar a vida alheia, criticar os ausentes, humilhar os presentes, discutir em público, ser grosseiro ou arrogante com as pessoas que estão lhe servindo. Evitar isso é basico e fundamental.
Aproveite e não perca uma oportunidade de mostrar seus bons modos: cumprimente as pessoas, ceda a cadeira a um idoso, respeite as filas, deixe o banheiro público tão limpo com se você fosse o próximo a usá-lo.
É claro que hoje as mulheres têm tantos direitos e deveres quanto os homens. Mas elas ainda se derretem quando são alvos de gentilezas que não custam nada: abrir a porta do carro, puxar a cadeira, ajudar a carregar os pacotes.
Estou cansada de perder a paciência quando alguém fecha o cruzamento, pára o carro em local proibido, invade a faixa de pedestres, cruza a minha frente sem pedir licença, buzina em congestionamento ou ocupa a vaga que eu estava esperando no shopping. Só não xingo o motorista para não ser mais mal-educada que ele. Paro do lado, olho no olho, sorrio e agradeço a gentileza, deixando o folgado com a sensação de que pisou na bola. Ele costuma entender. Os adultos também andam precisando de limites. Antes tarde do que nunca.
E chega de bagunça, é hora de pôr ordem no galinheiro! Vamos ajudar as crianças e adolescentes a tornar a vida mais agradável neste planetinha. Se os pais não cederem aos seus desejos, crianças vão parar de fazer birra, aprender a dividir seus brinquedos e ir para a cama na hora combinada. Limites já também para os adolescentes. Que tal exigir que eles reduzam o volume do som, avisem aonde vão e a que horas voltam pra casa? E também respeitem a propriedade alheia e a autoridade dos pais e professores que , afinal, têm a função de ensiná-los a se tornar pessoas melhores. De quebra, podiam evitar rir alto a ponto de incomodar os outros, ridicularizar os colegas ou outras coisinhas banais, como pegar uma tonelada de guardanapos e canudinhos na lanchonete, apenas porque são de graça.
Nossos avós estavam certos. Regras de boas maneiras são apenas uma forma civilizada de viver em comunidade. Se cada um souber onde terminam seus direitos e começam os dos outros, todos poderão conviver em paz e harmonia. Isso não se aprende só na escola. Já dizia minha mãe, a educação começa em casa. E ponto final.

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